Em um ato para marcar a passagem dos 27 anos da Constituição brasileira, cerca de 150 índios, quilombolas, marisqueiras e pescadores artesanais ocuparam o plenário 1 da Câmara dos Deputados durante toda a noite de segunda-feira, e madrugada desta terça-feira (6), em protesto contra o descumprimento de garantias constitucionais e a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que altera os procedimentos para a demarcação de terras.
Os manifestantes deixaram, no início da manhã, o plenário da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), mas permaneciam no Congresso. A ocupação do plenário começou à tarde, logo após sessão da Comissão de Direitos Humanos, presidida pelo deputado Paulo Pimenta (PT-RS) e da qual participou a vice-procuradora-geral da República, Débora Duprat. Os índios, representantes de comunidades de pelo menos seis Estados, decidiram permanecer no plenário e exigiam ser recebidos pelo presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
O presidente da Câmara se negou a receber representantes do grupo e determinou que as luzes e o ar condicionado fossem desligados, o que aconteceu por volta das 23h, provocando um breve momento de tensão. Em microfone, no calor e no escuro, os indígenas cantavam, tocavam e davam testemunhos de violência e abuso policial em suas comunidades e criticavam o governo por omissão. "São 27 anos de direitos violados e violência contra nosso povo", disse o líder Voninho Kaiowá, da etnia guarani-kaiowá, de Mato Grosso do Sul, onde há um mês uma liderança indígena foi morta a tiros.
Resistência
Para espantar o sono, os indígenas, mesmo no escuro, cantaram e dançaram no plenário durante a madrugada. Desde o início da noite, eles aceitaram ficar sem cachimbo depois que a segurança da Casa informou que a fumaça poderia danificar obras de arte na sala.
"A gente vai respeitar o patrimônio porque é nosso", disse um dos líderes do movimento. Ao longo da madrugada, os deputados se revezaram em vigília para evitar que os manifestantes fossem atacados.