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Voto do 'centro' deverá ser disputado entre Temer e Alckmin

Contexto eleitoral é essencial para entender a intervenção federal no RJ.

16/02/2018 - 08h13

De Brasília

O governador Geraldo Alckmin e o presidente Michel Temer, (Foto: Alan Santos/PR)

A desistência definitiva de Luciano Huck torna um pouco mais claro o cenário eleitoral. A disputa pela candidatura que tentará angariar o voto insatisfeito com as opções Lula e Bolsonaro – chamado genericamente voto de “centro” – está agora entre o presidente Michel Temer e o governador Geraldo Alckmin.


O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ministro Henrique Meirelles correm por fora, mas sabem que têm chance ínfima pela irrelevância nas pesquisas eleitorais. Temer também é desdenhado pela população. Que outro político inspirou uma alegoria de vampiro no Carnaval? Sua rejeição praticamente garante que não seria eleito.


Mas Temer tem a caneta da Presidência e a ilusão de que, com a recuperação econômica, pode virar o jogo. Além disso, se mantiver o cargo, continuará a salvo das denúncias contra ele na Operação Lava Jato – ambos congeladas pela Câmara – e das futuras investigações sobre o “quadrilhão” do PMDB.


O contexto eleitoral é essencial para entender a intervenção federal para deter a violência no Rio de Janeiro e a recriação do ministério da Segurança Pública. Por mais que ambas sejam medidas necessárias, Temer as toma também de olho na campanha, na tentativa de dar uma guinada de imagem em seu governo, diante do fracasso inexorável da reforma da Previdência (que também se encarregará de sepultar as esperanças de Meirelles).


Segurança será uma das bandeiras centrais na campanha do deputado Jair Bolsonaro, cuja base eleitoral original está na Polícia Militar, no Exército e no grupo parlamentar conhecido como “bancada da bala”. Bolsonaro defende medidas duras para conter o crime, com acenos até à tortura e à violação de direitos humanos.


Tanto Temer quanto Alckmin sabem que o tema e, em especial, a postura de Bolsonaro cativam parcela significativa do eleitorado. O descalabro que toma conta do setor, que nunca teve política nacional consistente, abre espaço para que o discurso extremista prospere.


A violência do narcotráfico, a facilidade do contrabando de armas, o controle dos presídios por facções criminosas, a precariedade e o atraso tecnológico das forças da lei, a corrupção policial, a leniência absurda da Justiça e da lei penal – tudo isso faz do crime um negócio de sucesso no Brasil. Combater a complexa teia de fatores que resulta na violência sem ação do governo federal é impossível (leia mais nesta série de posts).


A recuperação econômica gradual pôe a segurança no alto das preocupações do brasileiro. Alckmin tem o que mostrar. Bem antes de Temer, já falava em criar um ministério para cuidar do assunto. Também apresenta São Paulo como exemplo de sucesso no combate ao crime.


Com alta taxa de encarceramento, uma devassa na polícia ainda nos anos 1990, a perseguição a matadores de aluguel na mesma época e um controle mais eficaz das armas, São Paulo é o estado brasileiro que teve mais sucesso no combate ao crime. Exibe números que contrastam com o resto do país. Mas a situação paulista é instável. Vários índices têm dado sinais de degradação, em especial furtos e latrocínios.


Apesar disso, ela não se compara à do Rio, onde o fracasso do programa das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) devolveu ao tráfico o controle sobre àreas críticas que haviam sido reocupadas. Os homicídios voltaram a subir de modo vertiginoso, e a sensação de insegurança aterroriza a população. Sem recursos para tomar qualquer atitude, o governador Luiz Fernando Pezão não viu outra saída a não ser pedir ajuda a Temer.


Temer aproveitou a oportunidade para mudar a agenda e fincar uma estaca no terreno disputado por Bolsonaro e Alckmin. Politicamente, mesmo que a situação não melhore, ele não tem nada a perder. Sua popularidade chegou aos níveis mais baixos na história das pesquisas. De lá, só poderá subir.


Quem enfrenta um dilema agora é Alckmin. Não é um dilema novo. Tanto ele quanto Temer defendem quase o mesmo programa econômico. A implementação está em pleno andamento e, mesmo com o fracasso na reforma da Previdência, o resultado é positivo: juro baixo, inflação baixa, desemprego em queda.


Seria natural uma aliança entre PSDB e MDB. Para Alckmin, contudo, defender Temer significaria abraçar um presidente que o brasileiro preferiria esconjurar, parecido com aquele vampiro de Carnaval de quem, a qualquer momento, poderia levar uma dentada no pescoço.

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