Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda (março a setembro de 1994) de Itamar Franco, apontou que apesar do sucesso do Plano Real, a falta de responsabilidade fiscal é um dos legados que não foram totalmente absolvidos pelos políticos e governos após a implantação da moeda.
Para o ex-ministro, a população brasileira conseguiu assimilar o Real com sucesso porque entendeu a “malignidade” da hiperinflação, No entanto, a questão fiscal ainda é um desafio a ser enfrentado pelos governantes.
Ricupero fez o comentário durante um encontro comemorativo dos 30 anos do Plano Real, ao lado de outros “pais do Plano”, como Pedro Malan, Pérsio Árida, Edmar Bacha, Gustavo Franco e Armínio Fraga. Os economistas também contam bastidores da estabilização da economia brasileira no documentário “Real: O Plano que Mudou o Brasil” produzido pela equipe do Jornal da Record para o PlayPlus.com, com estreia em 1º de julho.
“Acho que é verdade que o Real é uma conquista que mudou o destino do Brasil; não é tudo, mas basta olhar para a vizinha Argentina, eles estão onde estávamos há 30 anos, é uma diferença colossal. Agora, acredito que o povo brasileiro se convenceu da malignidade da inflação, mas não tenho tanta certeza quanto aos políticos, especialmente os de mais alto escalão”, comentou.
“Eles [os políticos] compreendem que o povo não tolera inflação, então não podem ser a favor dela, mas não fazem a conexão entre causa e efeito, como no caso do gasto público. Para eles, inflação não tem nada a ver com gasto público, é uma variável diferente. Isso precisa ser dito, e confesso que minha maior tristeza ao fim da vida é ver que, dentre tudo o que não foi absorvido, a responsabilidade fiscal é a mais difícil. Aqui, abandonamos a responsabilidade fiscal depois de termos melhorado, e isso é lamentável”, completou.
Ricupero foi o responsável por encaminhar, em 30 de junho de 1994, ao Planalto a exposição de motivos que criou o Plano Real. Ele também mencionou a figura complexa de Itamar Franco, presidente na época do plano, e o descreveu como alguém que alternava entre ser “indispensável e um obstáculo”.
“Ele [Itamar Franco] era um homem contraditório. Ele só governou dois anos e três meses, menos que o [Michel] Temer, no entanto, foi durante seu período que conseguimos resolver toda a herança maldita do governo militar. A hiperinflação e a crise da dívida são heranças dos militares. Foram eles que deixaram tudo isso, e foi na época do Itamar que conseguimos resolver o caso da dívida, graças ao Pedro [Malan], que fez uma negociação brilhante com o Fundo Monetário”, destacou. (Com R7)