Envolvido em um esquema que usava nomes de pessoas já falecidas para movimentar processos e desviar dinheiro, o advogado Daniel Fernando Nardon foi preso nesta quinta-feira (15) em Dourados, segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul.
A prisão, segundo reportagem do G1, foi feita pela PRF (Polícia Rodoviária Federal), que investiga a atuação de um grupo acusado de enganar clientes e se apropriar de valores obtidos em ações judiciais.
O g1 não conseguiu contato com a defesa de Daniel Nardon. No entanto, ao ser preso, o advogado afirmou ser inocente e negou qualquer envolvimento com o esquema.
“Usaram meu nome nesse golpe e agora tentam me responsabilizar por tudo. Jamais fiquei com dinheiro de ninguém. Trabalho há 27 anos com seriedade, tenho 200 funcionários e nada a esconder”, declarou ao ser abordado pela reportagem.
Apontado pela PRF como um dos principais nomes da quadrilha investigada, Nardon seria peça-chave em um esquema que a Polícia Civil chama de “advocacia predatória” — prática que teria lesado milhares de pessoas e gerado um prejuízo estimado em até R$ 320 mil.
O delegado Vinícius Nahan informou que o advogado responderá por crimes como falsificação de documento particular, falsidade ideológica e uso de documento falso.
As suspeitas contra Nardon começaram a ser formalmente investigadas em janeiro deste ano, quando o Ministério Público recebeu informações de possíveis fraudes em ações judiciais ajuizadas em nome de pessoas já falecidas.
Um dos casos que chamou a atenção ocorreu em 2024, quando o advogado teria apresentado uma procuração datada de 23 de agosto daquele ano, em nome de um cliente que havia morrido mais de dois meses antes. A inconsistência foi detectada pelo próprio juiz responsável pelo processo, que encaminhou o caso ao MP.
Além de Nardon, outras 13 pessoas estão na mira das autoridades, suspeitas de envolvimento em crimes como estelionato, patrocínio infiel, falsidade ideológica, fraude processual, uso de documentos falsos e apropriação indébita. A Polícia Civil já abriu 45 inquéritos para apurar o caso.
Em uma das ações analisadas pela Justiça, o advogado foi intimado a justificar a discrepância entre a data da morte do cliente e a emissão da procuração. Em sua defesa, afirmou que, na ocasião, “desconhecia o falecimento do autor e que não havia qualquer informação oficial sobre o óbito”.
Contudo, a Polícia sustenta que a procuração falsa foi usada para propor uma ação judicial sem qualquer ressalva sobre a morte do suposto cliente. O mesmo modelo de documento teria sido utilizado para mover outras oito ações, todas no mesmo dia, distribuídas para varas cíveis diferentes da comarca de Porto Alegre (RS).
As investigações revelam um padrão repetido de fraude, sempre com o uso de nomes de falecidos e documentos forjados, levantando suspeitas de que o esquema possa ter ramificações em outros estados.