Depois da série de demissões e ajustes promovidos pelo Palácio do Planalto, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), voltou a atuar como interlocutor direto entre o governo Lula (PT) e o Centrão.
Motta tem buscado renegociar os espaços de poder do bloco no Executivo, aproveitando o momento de fragilidade política da base após a saída de ministros e o recente revés sofrido pelo governo no plenário.
Segundo apuração, o deputado passou a chamar líderes partidários para conversas reservadas e avaliar o tamanho real do apoio de cada sigla ao Planalto.
O movimento ocorre em meio ao processo de “reorganização” da base aliada, conduzido pela ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, que se reuniu com Motta no início da semana para discutir o novo desenho político.
Na prática, o presidente da Câmara tenta reconstruir pontes e redimensionar o mapa de cargos distribuídos a partidos do Centrão — blocos que, nos últimos meses, endureceram a relação com o Planalto e já impuseram derrotas significativas ao governo em votações estratégicas, como a medida provisória que tentava conter o impacto da alta do IOF.
Fontes em Brasília afirmam que Motta assumiu o papel de “negociador informal”, com aval direto de Gleisi, e deve coordenar novas indicações políticas nas estatais e autarquias.
A estratégia repete o modelo adotado por ex-presidentes da Câmara que controlavam a base aliada em troca de influência na máquina pública.
O movimento marca uma reaproximação calculada entre Lula e o Centrão, num momento em que o governo tenta estancar o esvaziamento de apoio no Congresso.
A reorganização da base, segundo aliados, será feita “com responsabilidade”, mas sob uma nova regra: quem quiser espaço no governo terá de entregar votos fiéis ao Planalto.
Nos bastidores, o gesto de Motta é visto como um teste de força política: o deputado se posiciona como mediador central na reconstrução do pacto entre o Planalto e o bloco mais poderoso do Legislativo — e reforça que, em Brasília, nenhum espaço de poder fica vazio por muito tempo. (Com agências nacionais)