A possível convocação de Frei Chico, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), está movimentando os bastidores de Brasília e provocando grande preocupação no governo.
A CPMI do roubo do INSS deve decidir, na próxima quinta-feira (16), se o chamará para depor, mesmo ciente de que o irmão de Lula irá negar sua participação no desvio de dinheiro público e poderá adotar o silêncio durante a sabatina.
O receio é de que o caso, que envolve R$ 6,3 bilhões desviados das contas de aposentados e pensionistas, aprofunde o desgaste político do presidente e respingue na imagem do governo em pleno ano pré-eleitoral.
Frei Chico, cujo nome verdadeiro é José Ferreira da Silva, é vice-presidente do Sindnapi (Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos) — entidade investigada pela Polícia Federal por integrar um esquema bilionário de roubo de benefícios previdenciários.
O Ministério Público e a PF apontam que o sindicato teria realizado descontos não autorizados nos contracheques de aposentados e pensionistas de todo o país, movimentando cifras altíssimas sob a justificativa de contribuições associativas.
Na última semana, a Polícia Federal deflagrou uma operação contra o Sindnapi, apreendeu documentos e bloqueou R$ 390 milhões em bens por determinação do ministro André Mendonça, do STF (Supremo Tribunal Federal).
O magistrado destacou a existência de fortes indícios de uma organização criminosa voltada a desviar recursos de aposentados e pensionistas do INSS.
O presidente do sindicato, Milton Baptista de Souza Filho, chegou a depor à CPMI, mas manteve silêncio em boa parte das perguntas. Em determinado momento, afirmou que Frei Chico não exercia função administrativa na entidade, apenas representação política.
Mesmo assim, a pressão sobre o irmão do presidente comunista aumentou. Parlamentares da oposição veem na convocação de Frei Chico uma oportunidade de esclarecer o papel da direção sindical no esquema e de medir o grau de influência política do entorno do presidente nas entidades investigadas.
Já aliados do governo consideram a possível oitiva uma manobra para desgastar Lula e desviar o foco das ações da comissão.
Requerimentos de convocação
A movimentação na CPMI é intensa. Cinco requerimentos pedindo a convocação de Frei Chico estão prontos para votação, e tudo indica que o tema dominará a pauta da próxima reunião.
A base governista tenta evitar o depoimento, enquanto a oposição promete insistir até o fim. O Planalto teme que o caso ganhe proporções ainda maiores e contamine o debate público, especialmente após o avanço das investigações e o bloqueio milionário de bens do sindicato.
A polêmica, no entanto, já provocou grande desgaste político. O caso é visto como um novo foco de crise para o governo, que enfrenta dificuldade em conter o roubo do INSS.
Omissão da grande imprensa
Em meio à pressão, cresce a crítica de que a grande imprensa, em especial a Rede Globo de Televisão, beneficiada por verbas públicas, estaria omitindo o assunto e evitando dar destaque à possível convocação de Frei Chico, o que acirra ainda mais a disputa política em torno do tema.
A CPMI do roubo do INSS volta a se reunir nesta quinta-feira (16) para analisar os requerimentos e ouvir outras testemunhas. A decisão sobre o depoimento de Frei Chico deve ser um dos momentos mais tensos da comissão até agora, com potencial de gerar repercussões diretas na política nacional e no futuro eleitoral do presidente Lula. (Com informações da CNN)