Alexsandro Ribeiro foi convocado por Carlo Ancelotti para a próxima Data Fifa. Aos 25 anos, o zagueiro do Lille defenderá a seleção brasileira pela primeira vez.
Ele viveu como catador de latinhas no lixão e jogou com Vini Jr na base do Flamengo. O defensor se emocionou com a convocação em entrevista ao ge.
-- Momento de alegria ser convocado pela primeira vez para a seleção brasileira. Estou muito feliz. Aqui em casa, com a minha família, estávamos todos muito ansiosos para esse momento. Vim trabalhando muito para isso. Graças a Deus, hoje pude ser honrado com essa convocação. Estou muito feliz. Obrigado a todos que me apoiaram, a todos que me ajudaram -- disse o zagueiro ao ge.
O zagueiro está na primeira lista de Ancelotti pela Seleção. Ele defenderá a camisa do Brasil nos jogos contra Equador e Paraguai pelas Eliminatórias da América do Sul, nos dias 5 e 10 de junho, respectivamente.
A seleção brasileira se apresenta na próxima segunda-feira e vai se preparar no CT do Corinthians. Na terça, após treino, a delegação embarca para Guayaquil.
Conheça o zagueiro
Nascido na comunidade do Dique II, em Duque de Caxias, Alexsandro lutava para ter o que comer. A "Rampa" era um dos grandes símbolos do lixão de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, cidade localizada na Baixada Fluminense, ao lado do Rio de Janeiro. O lugar fez parte da vida de Alexsandro por muitos anos. Era lá que a mãe vendia objetos para ganhar dinheiro e sustentar os cinco filhos. Foi também na "Rampa" que Alex ganhou algumas roupas.
Ainda na adolescência, ele começou a jogar no Flamengo ao lado de Vini Jr, mas enfrentou um caminho diferente do colega. Alex ficou mais de um ano sem jogar até ter uma oportunidade na terceira divisão de Portugal. Depois, rodou no país lusitano até chegar ao Lille, pelo qual disputou a Champions League.
Em entrevista ao ge realizada em novembro de 2024, o zagueiro se emocionou ao lembrar dos momentos em Gramacho:
- Sempre me reergui pensando na minha família. A situação que a gente estava era muito precária, e eu queria tirar dessa situação. Mesmo que aquilo me entristecesse, me desanimasse, quando eu abria a geladeira e não tinha nada para comer, abrindo o armário e não tinha um biscoito... aquela situação que era negativa, eu transformava em positiva para me reerguer. Foi a falta de tudo, do básico, dentro da minha casa que eu fiz como se fosse positiva. Eu menti para mim mesmo. Eu sabia que as coisas poderiam não acontecer, mas eu voltei a acreditar e fiz acontecer. Eu desisti, mas com as dificuldades que passei dentro de casa, eu tornei isso a minha força.
Hoje, Alexsandro é titular absoluto do Lille e chegou a disputar as oitavas de final da Champions League. Ele diz ser apaixonado pela cidade e pelo clube. Com contrato até 2028, o zagueiro vive um momento muito positivo pela equipe. Em outubro, ele estava em campo na vitória por 1 a 0 sobre o Real Madrid na Champions League. Antes do jogo, um reencontro marcou o camisa 4.
- Quando estava no túnel para entrar em campo, do nada o Vini veio e me deu um abraço. Falou: “Estou feliz por te ver aqui, irmão. Depois do jogo a gente conversa”. Aquilo encheu meu coração de alegria e motivou ainda mais dentro de campo, o que foi um pouco ruim para ele. Aquilo me inspirou de uma forma muito grande - conta.
- A gente ficou 10 anos sem se ver, sem se falar. Ele lembrou daquele tempo que a gente estudava em Vargem Grande, do tempo que a gente jogava junto, e aquilo foi muito positivo. Ficamos resenhando o tempo todo (depois do jogo) falando da época de escola, da época de Flamengo. Ele falou o quanto eu evoluí, o quanto eu cresci, que estava feliz. Eu também estava feliz por ver ele. Eu o vi com 14, 15 anos... Depois de 10 anos, vi dessa forma, disputando Bola de Ouro. Fico feliz por ele. Ele vem de uma situação difícil, em São Gonçalo, onde ele morava. Eu lembro do primeiro jogo dele, contra o Atlético-MG, e aquilo me motivou a avançar. Sem ele saber, ele motiva muitas pessoas. É um moleque de ouro - elogia Alex.