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Hotel muda nome, passa a cobrar 80 vezes mais a diária e está vazio

Em agosto, o estabelecimento informou ao GLOBO que custo da estadia acompanhava valores praticados durante o evento

Conjuntura Online
08/09/25 às 10h07
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Alcides Moura, gerente do Hotel COP30 (Foto: Anderson Coelho/AFP)

Simples, mas aconchegante, o Hotel COP30 de Belém ainda não fechou nenhuma reserva para o evento de novembro: seus proprietários pretendem alugar o edifício inteiro para alguma delegação estrangeira, mas até agora seus preços não convenceram ninguém.

A pouco mais de dois meses da conferência anual da ONU sobre a mudança climática, o alto custo da hospedagem preocupa a organização de um evento que receberá cerca de 50 mil pessoas durante 12 dias na cidade amazônica.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) idealizou a COP30 em Belém para dar visibilidade à maior floresta tropical do planeta, fundamental contra o aquecimento global. Os delegados poderão negociar "sob a copa de uma árvore", brincou em 2023, quando o Brasil foi anunciado como sede.

Longe do romantismo de Lula, a capital do estado do Pará se deparou primeiro com um déficit de acomodação e depois com uma disparada nos preços. Para aliviar, o Brasil programou a cúpula de chefes de Estado para 6 e 7 de novembro, antes da conferência prevista entre os dias 10 e 21. Mas não foi suficiente.

Em agosto, uma reportagem do GLOBO mostrou o caso do Hotel COP30, que era chamado “Hotel Nota 10” antes de Belém ser escolhida para sediar a conferência. Com a mudança, o estabelecimento passou a cobrar cerca de 80 vezes mais pela diária. O valor, que era de R$ 70 por dia, passou a ser de R$ 5.670 à época.

'Nunca aconteceu'

Vários países sugeriram em julho uma mudança de sede. A ONU pediu ao Brasil que subsidiasse os aluguéis para as delegações. O governo se recusou.

Por enquanto, 68 dos 198 países participantes pagaram suas reservas. "Isso nunca aconteceu, normalmente dois ou três meses antes da conferência todos os países já têm acomodação", diz à AFP Marcio Astrini, secretário-executivo da rede ambientalista Observatório do Clima.

Em uma das coloridas e desgastadas ruazinhas do centro histórico de Belém, o Hotel COP30 oferece vagas para 40 hóspedes. No local, funcionava um motel, até que em 2024 novos proprietários o reformaram e trocaram seu nome.

"É um evento de uma magnitude que Belém nunca esperou e os valores acabaram ficando desordenados, cada um colocou seus valores e alguns fora da realidade", reconhece o gerente Alcides Moura.

Seu hotel chegou a anunciar tarifas diárias de R$ 6,3 mil. Um "teste de mercado", segundo Moura, que mostrou limites: hoje os quartos não passam de US$ 350 (R$ 1.910).

A oferta de leitos está garantida'

Belém é a capital brasileira com maior porcentagem de população vivendo em favelas, com 57% dos seus 1,4 milhão de habitantes. Para muitos proprietários, a COP30 representa uma oportunidade única de obter bons lucros.

Ronaldo França, um aposentado de 65 anos, alugará pela primeira vez sua casa de fim de semana nos arredores da cidade, a 25 quilômetros do centro de convenções. Com três quartos de casal e piscina, ele pede US$ 370 (cerca de R$ 2 mil) por noite. Já foi contatado por interessados chineses.

"Eu não vou cobrar um preço absurdo, mas o governo não acompanhou os aluguéis e aí os caras estão explorando muito, esse pessoal está em outro mundo", diz.

O Brasil lançou em agosto um grupo de trabalho para ajudar os delegados a conseguirem melhores condições. "A oferta de leitos está garantida", afirmou à AFP o governador do Pará, Helder Barbalho, embora admita que ainda seja necessário "combater as abusividades".

Algumas delegações pedem quartos individuais para todos os seus membros.

"Quem quer luxo teve a oportunidade de ir à COP em Dubai, quem quer viver a experiência da Amazônia vai ter a oportunidade de conhecer Belém", diz Barbalho.

Com infraestrutura limitada, a cidade recebeu mais de R$ 4 bilhões em investimentos para obras públicas devido à COP, entre elas o Parque da Cidade, um gigantesco centro de convenções arborizado onde ocorrerá o evento.

Debate equivocado

As autoridades calculam que 60% dos participantes devem se hospedar em propriedades particulares. Os hotéis estão "quase todos cheios", segundo Toni Santiago, presidente da associação de hotéis do Pará.

A organização rejeitou um pedido do governo para fixar preços que considerou irrisórios: "Isso não existe em nenhum grande evento no mundo, porque Belém tem que ser a vira-lata da história?"

Para reforçar a oferta, o governo disponibilizou dois navios privados que oferecerão 6 mil camas, embora estejam a 20 quilômetros do evento. O Airbnb anunciou dias atrás que a média de preços caiu 22% desde fevereiro. Porém, no Airbnb, Booking e na plataforma oficial de hospedagem, é difícil encontrar tarifas diárias próximas a US$ 100 (cerca de R$ 545), o valor que a ONU exige para delegações de baixo orçamento.

Esta COP pode ser a menos inclusiva da história, alertou o Observatório do Clima, preocupado com a hospedagem para a sociedade civil. Seu secretário lamenta que os preços tenham ofuscado o que "interessa de verdade" na COP: "metas climáticas, combustíveis fósseis, financiamento climático". (Com AFP e O Globo)

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