O clima de tensão entre as duas Casas do Congresso Nacional aumentou após a rejeição da PEC da Blindagem pelo Senado, em uma votação que expôs divergências e feriu a relação política entre deputados e senadores.
A decisão foi recebida com revolta na Câmara, onde parlamentares classificaram o episódio como uma “humilhação institucional” e passaram a discutir retaliações. No epicentro da crise, a liderança do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), também começou a ser colocada em xeque por aliados e adversários.
A proposta, aprovada pela Câmara com 353 votos a 134, previa que a abertura de ações penais ou a prisão de parlamentares dependeria de autorização do próprio Congresso, em votação secreta.
O texto, apelidado de “PEC da Bandidagem” por críticos, foi rejeitado por unanimidade na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, após forte pressão popular e manifestações contrárias em várias capitais.
Nos bastidores, deputados dizem que havia um acordo entre Motta e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), para a PEC avançar.
Como o texto foi arquivado, parlamentares cobram que o presidente da Casa “defenda a Câmara” e acusam-no de adotar discursos diferentes em público e em reuniões internas. Aliados próximos de Motta afirmam que o acordo de fato existiu, mas que não é do perfil do dele confrontar publicamente Alcolumbre. A percepção, no entanto, é de que sua liderança saiu fragilizada.
Deputados discutem travar projetos de interesse dos senadores e até direcionar a CPI do INSS contra o Senado. Outra possibilidade seria atrasar a tramitação de propostas originadas na Casa vizinha. A rejeição também colocou em dúvida a tramitação do projeto que trata da anistia aos condenados pelos atos de 8 de Janeiro. O relator, Paulinho da Força (Solidariedade-SP), admite que o clima de desconfiança pode travar a votação.