O Tribunal Superior de Londres decidiu nesta quinta-feira (20) que parte do processo movido por Felipe Massa contra a Fórmula 1, o ex-chefão Bernie Ecclestone e a FIA poderá seguir adiante.
O ex-piloto da Ferrari busca o reconhecimento de que deveria ter sido declarado campeão mundial de 2008 — temporada em que perdeu o título para Lewis Hamilton por apenas um ponto — e pede uma indenização estimada em 64 milhões de libras (cerca de R$ 446 milhões), além de juros.
O juiz Robert Jay autorizou o prosseguimento das alegações de que houve indução à quebra de contrato, afirmando, em resumo de sua decisão, que é plausível que Massa só tenha percebido que poderia mover uma ação após uma entrevista concedida por Ecclestone em 2023.
No entanto, o magistrado rejeitou a acusação de que a FIA descumpriu seu dever de investigar o caso e descartou o pedido de declaração de título, ressaltando que “o tribunal não pode ser instado a reescrever o resultado do Mundial de Pilotos de 2008”.
Singapuragate: relembre o escândalo
Em 2008, Felipe Massa liderava o GP de Singapura e a disputa pelo título da Fórmula 1. A corrida, disputada nas ruas de Marina Bay, contou com uma batida proposital do também brasileiro Nelson Piquet Jr, na época correndo pela Renault. O intuito era favorecer seu companheiro de equipe Fernando Alonso, seguindo ordens dos chefes da escuderia.
Sob bandeira amarela, Massa foi convocado pela Ferrari para ir aos boxes, mas a equipe italiana cometeu um erro ao deixar uma mangueira presa ao carro. Além disso, o piloto brasileiro quase se envolveu em um acidente com o alemão Adrian Sutil e sofreu punição.
Felipe Massa ainda furou o pneu no final da prova, retornando aos boxes novamente, caindo para o 13º lugar no circuito. A diferença para Hamilton, que era de apenas um ponto, foi ampliada para sete. Fernando Alonso venceu a corrida, o alemão Nico Rosberg chegou em segundo e Hamilton completou o pódio.
Em 2009, o filho do tricampeão Nelson Piquet entrou em contato com a FIA para admitir que bateu de propósito para beneficiar Alonso.
A última corrida da temporada aconteceu no Brasil, no GP de Interlagos, em São Paulo. Massa venceu, chegando a 97 pontos. No entanto, Hamilton somava 98 pontos e sagrou-se campeão do mundo pela primeira vez.
“Quando apareceram as provas me deu ânimo de lutar, porque é o correto a ser feito, é pelo esporte, pela justiça. Mas logicamente, 15 anos depois, nada vai me tirar aquela alegria de estar vencendo em casa na frente dos torcedores brasileiros em 2008, na última corrida do ano em Interlagos”, disse o ex-Ferrari em entrevista ao CNN Esportes S/A.
Felipe Massa falou sobre o episódio à CNN
"A corrida foi manipulada, e foi comprovada a manipulação no ano seguinte, em 2009. Agora a nossa luta é sobre a injustiça que teve de situações como chefes, tanto da FIA, que é a Federação Internacional de Automobilismo, tanto o dono da categoria que era o Bernie Ecclestone na época, que se juntaram em um complô para não cancelarem a corrida esperando o ano seguinte", contou o piloto brasileiro.
"Queriam esperar 2009, onde tinha uma regra que dizia que quando o piloto recebesse o troféu de campeão do mundo, o resultado não podia mais ser mudado. Depois de 15 anos, o Bernie Ecclestone dá uma entrevista e diz que eles sabiam de 2008 e resolveram não fazer nada para não riscar o nome da Fórmula 1".
Em 2024, Bernie Ecclestone declarou que a decisão de Massa em levar o ocorrido à Justiça "era a coisa certa a fazer".
Mágoa e rancor de Nelsinho Piquet
O ex-piloto da Fórmula 1 e atualmente na Stock Car admitiu sentir mágoa de Nelson Piquet Jr após o episódio.
“Eu guardo [mágoa] porque o Nelsinho Piquet logicamente não bateu o carro por querer, para tirar o meu título. Ele bateu o carro em acordo com a equipe para negociar o contrato dele para o ano seguinte, que foi muito feio, algo inaceitável. Mas eu acho que depois de um tempo ele não ser a favor de um outro piloto que perdeu um título por algo que não foi culpa dele, que foi culpa do Nelsinho e da equipe, eu acho que isso sim me traz muito rancor dele, não apoiar a decisão”, admitiu Massa.
“Eu no caso dele teria apoiado, no caso dele teria mostrado, como brasileiro, que o que aconteceu comigo foi muito sério, e que não desejo que aconteça com ninguém”, complementou. (Com CNN)
