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Caravina propõe homenagem da Alems no Centenário de Helena Meirelles

Lido na sessão desta terça-feira (23), o texto destaca que a honraria será destinada a homenagear mulheres instrumentistas do nosso Estado, nos mais variados segmentos musicais.

23/04/2024 - 14h15

Campo Grande

Deputado Pedro Caravina (PSDB) (Foto: Divulgação)

Tramita na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul projeto de resolução que institui  a Medalha e o Diploma de Honra ao Mérito Legislativo em homenagem ao Centenário de Helena Meirelles.


De autoria do deputado estadual Pedro Caravina (PSDB),  o projeto visa homenagear a compositora, cantora e violeira, símbolo da música sul-mato-grossense e brasileira.


Lido na sessão desta terça-feira (23), o texto destaca que a honraria será destinada a homenagear mulheres instrumentistas do nosso Estado, nos mais variados segmentos musicais.


“A honraria instituída por essa Resolução será entregue, preferencialmente, na semana em que se comemora o centenário de Helena Meirelles, 13 de agosto de 2024, em sessão solene realizada pela Assembleia Legislativa, especificamente para este evento”, diz trecho da propositura.


Em sua justificativa, Caravina destaca que a história de Helena Meirelles está intimamente ligada à história de Bataguassu, onde se encontra o Museu Municipal Helena Meirelles, com muitos arquivos pessoais da instrumentista.


“Sem dúvida esta é uma importante homenagem deste Parlamento ao Centenário da Dama da Viola, que deverá ser outorgado à grandes mulheres instrumentistas sul-mato-grossense e que levará o nome de ninguém menos que Helena Meirelles”, destaca o parlamentar.


CARREIRA

A saudosa Helena Meirelles (Foto: Divulgação )

Helena Pereira da Silva Meirelles, nasceu na fazenda Jararaca na região do antigo Entre Rios, mas foi em Bataguassu que a cantora, compositora e violeira estabeleceu raízes.


Aprendeu a tocar viola com seu tio Leôncio, apesar da reprovação de seus

familiares que diziam que "não era coisa de moça de família", por passar a imagem de pessoa descompromissada e sem responsabilidade.


Aos 17 anos, após o fracasso de seu primeiro casamento, Helena foi trabalhar em casas de família, sendo humilhada constantemente, tratada como no passado tratavam as escravas. Alguns queriam pagá-la apenas com a comida oferecida diariamente, e restos de roupas usadas, sem contar que só de dizer que gostava de moda de viola, era execrada, como se gostasse de algo ilícito.


Então, Helena passou a trabalhar em estabelecimentos comerciais, como bares, restaurantes, pousadas, locais que abriram a porta para o seu talento musical, servindo-se dele para alegrar o ambiente.


O tempo foi passando e Helena perdeu totalmente o contato com a sua família, mas começou a ser conhecida por seus ritmos sul-mato-grossense com influência paraguaia, rasqueados, chamamés e polcas, passando a ser constantemente convidada para participar de festas e bailes em locais afastados do interior do Mato Grosso e região do Pantanal.


O fato de se tratar de uma mulher musicista que se apresentava em qualquer lugar – algo extraordinário para época - consistia numa verdadeira atração, pois não se via em todo Estado uma mulher com tal comportamento.


Após trinta anos sem ver os seus familiares, já na década de 70, Helena reencontrou a sua família e mudou-se para Santo André (SP), onde passou a residir, realizando pequenas apresentações na casa da irmã onde reunia outros violeiros.


Incentivada pelo sobrinho Mario Araújo, Helena gravou algumas de suas músicas em um pequeno estúdio e enviou-as em fitas K7 para rádios e gravadoras.


Por isso, Helena foi convidada por Inezita Barroso para uma apresentação em seu programa Mutirão, exibido pela Rádio da Universidade de São Paulo, tendo participado, posteriormente, do programa Viola, Minha Viola, da TV Cultura, também apresentado por Inezita.


O seu modo de tocar era peculiar, diferenciando de tudo o que se conhecia sobre instrumentos de corda.

O sucesso e o reconhecimento nacional veio depois que o seu sobrinho enviou algumas fitas para a revista norte-americana Guitar Player, dedicada a instrumentos populares de corda.


A revista escolheu-a como instrumentista revelação de 1993, colocando sua palheta ao lado de nomes como o dos ingleses Eric Clapton e Jimmy Page, guitarrista do Led Zeppelin, e dos norteamericanos Jimi Hendrix, B.B King e Carlos Santana.


Em 1994, Helena lança seu primeiro CD com destaque para dois chamamés compostos por ela, "Fiquei Sozinha" e "Quatro Horas da Madrugada", e outras músicas de domínio público, como "Araponga" e "Chalana", sucessos de Mário Zan. O CD ainda contou com histórias e causos de sua vida de Helena Meirelles.


Em 1997 Helena lança mais um CD, intitulado "Raiz Pantaneira", com treze composições suas e participação de Sérgio Reis na canção "Guiomar", de Haroldo Lobo e Wilson Batista.


Em 1998, apresentou-se na Expo Mercosul, em Canela, Rio Grande do Sul, e em diversas unidades do Sesc pelo Brasil. Em 2002, lançou o seu quarto e último CD, "Helena Meirelles ao Vivo", gravado em Campo Grande, com destaque para "Flor Pantaneira", de sua autoria, e participação de Zezinho Nantes, na gaita. Em 2004, é lançado o documentário "Helena Meirelles a Dama da Viola", com direção de Francisco de Paula e trilha-sonora da própria Helena.


A Dama da Viola, como era carinhosamente chamada, foi reconhecida pela revista americana Guitar Player como uma das 100 melhores instrumentistas do mundo.

No dia 28.09.2005, Helena Meirelles não resistiu às complicações pulmonares, vindo a falecer em Campo Grande, aos 81 anos de idade e no ano seguinte é lançado o documentário "Dona Helena" em sua homenagem, com direção de Dainara Toffoli.


Foram exatos 10 anos de fama absoluta, construída sobre o exercício constante, desde os 9 anos de idade, quando certa vez pegou o violão do tio e o arrastou até o mato para dedilhar magicamente tudo aquilo que havia aprendido "de olho", vendo os tios.


A história de Helena Meirelles traduz a coragem extrema de uma pré-adolescente que escolheu a música como o alimento de sua alma. Num gesto de coragem, Helena rompeu os grilhões que a prendiam e a impediam de praticar o que ela mais amava.


Sua decisão audaciosa custou-lhe caro - tomada num tempo cuja mulher se tornava facilmente mal vista por razões banais - e quem rompesse os tabus e preconceitos carregaria para sempre os piores rótulos.

Independentemente de julgamentos e sentenças, Helena é um dos maiores exemplos da busca por um sonho. Para elas, as piores agruras da vida nunca consistiram em obstáculos, mas sim em desafios a serem alcançados.


Inegavelmente, ela foi uma criança-prodígio, que se tivesse cedido às sentenças injustas dos juristas populares, jamais teria sido esse patrimônio da música sul-mato-grossense e brasileira.

Jamais teria dado ao Brasil e, em especial, ao Mato Grosso do Sul, a honra de ter levado o nome do nosso Estado ao mundo.

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