O Brasil vê a China aproveitando a COP30 para para reforçar a aliança bilateral e se aproximar ainda mais dos países da América do Sul, com o espaço deixado pela ausência dos Estados Unidos no evento e pelo tensionamento da Casa Branca com a Venezuela.
O discurso chinês nesses primeiros dias em Belém foi alinhado ao do Palácio do Planalto no sentido de defender o multilateralismo e uma agenda ambiental.
Embora seja o maior emissor de gases de efeito estufa, o país lidera investimentos em energia limpa com painéis solares, veículos elétricos e turbinas eólicas produzidos e vendidos cada vez com baixo custo.
Mas ainda não há garantias de que o país asiático fará um aporte ao Fundo Florestas Tropicais para Sempre, ou TFFF (Tropical Forest Forever Facility), na sigla em inglês, a grande aposta do Brasil para a COP.
A ampla delegação chinesa, estimada em mais de 300 pessoas, está hospedada em um hotel de luxo num bairro nobre da capital paraense, com forte aparato de segurança. Ela é liderada pelo vice-primeiro-ministro Ding Xuexiang.
O entorno do presidente Lula não esconde que gostaria que fosse Xi Jinping, mas gosta de enfatizar que, nos organogramas da política chinesa, Xuexiang está no topo. Sua posição é a mais alta entre os quatro vice-primeiros-ministros do Conselho de Estado e também é um dos sete que integram o Comitê Permanente do Birô Político do Partido Comunista da China, órgão central na estrutura de poder chinesa.
As mensagens que Xuexiang passou ao Brasil até agora foram de grande alinhamento. Ele se reuniu com Lula na quarta-feira em uma agenda fechada, na qual discutiram, dentre outros pontos, a aproximação da China do Mercosul e trataram da 8ª reunião da Cosban (Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação), que deve ocorrer no próximo ano no Brasil. No comunicado oficial após o encontro, foi ressaltado que o chinês destacou o “bom momento das relações bilaterais”.
Na quinta-feira, durante a abertura da Cúpula dos Líderes, Xuexiang foi o segundo a falar depois de Lula. No discurso, adotou uma linha semelhante à do brasileiro, de que as dificuldades globais atrapalham os debates climáticos e da necessidade de reforçar o multilateralismo.
“A humanidade encontra-se agora numa nova encruzilhada. É imprescindível que todas as partes defendam o verdadeiro multilateralismo, fortaleçam a solidariedade e a coordenação e façam progressos sustentados na governança climática global”, disse Xuexiang.
Também abraçou a ideia de Lula e da presidência brasileira da COP de Belém ser uma COP da implementação de acordos anteriores por meio de ações concretas.
"Traduzir os compromissos climáticos em ações concretas: a chave para enfrentar as mudanças climáticas está na ação. Precisamos respeitar o princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas", afirmou o chinês.
A menção ao princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas, um mantra nas negociações climáticas desde a Rio 92, significa basicamente que todos os países devem contribuir para o combate aos efeitos da mudança do clima, mas dentro de suas capacidades econômicas e com base nas contribuições históricas de cada um para que se chegasse no estágio atual. Ou seja, os países desenvolvidos não podem forçar os que ainda não se desenvolveram a contribuir da mesma maneira que eles.
Isso faz com que a diplomacia brasileira tenha cautela em assegurar que a China irá contribuir para o TFFF, pois, dentro desse princípio, o país entende que essa contribuição deve partir principalmente dos países desenvolvidos.
Apesar de ter o segundo maior PIB do mundo, os chineses não querem ser entendidos nas negociações climáticas como uma nação que no mesmo nível que os países europeus nesse sentido.
Diplomatas brasileiros relatam que os chineses gostam de ressaltar nas conversas que, embora tenham a maior taxa de emissão de CO2 do mundo, não têm a maior taxa de emissão per capita, o que diminuiria sua responsabilidade nas negociações climáticas.
Apesar da justificativa, o aporte chinês ao TFFF é muito esperado pelo Brasil. Diplomatas brasileiros dizem que se não ocorrer ainda em Belém, há possibilidade de que, nas próximas semanas, saia. Há até uma data idealizada: a reunião do G20 na África do Sul, nos dias 22 e 23 de novembro. (Com Blogo do Caio Junqueira/CNN)
