A investigação que apura um esquema de venda de sentenças no TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) avançou para além dos magistrados e passou a concentrar atenção também sobre seus familiares, segundo o G1.
No CNJ (Conselho Nacional de Justiça), os filhos de dois desembargadores afastados surgem como peças centrais na análise de movimentações financeiras consideradas incompatíveis com a renda declarada, além de indícios de lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito.
Os apontamentos constam dos votos e relatórios apresentados pelo corregedor nacional de Justiça, ministro Mauro Campbell, que embasaram a abertura de PADs (Procedimentos Administrativos Disciplinares) contra os desembargadores Vladimir Abreu da Silva e Sideni Soncini Pimentel, deliberados entre novembro e dezembro de 2025.
Entre os nomes citados estão Marcus Vinícius Machado Abreu da Silva e Ana Carolina Machado Abreu da Silva, filhos de Vladimir Abreu, além de Rodrigo Gonçalves Pimentel e Renata Gonçalves Pimentel, filhos de Sideni Pimentel — todos advogados.
Movimentações sob suspeita
De acordo com o CNJ, a análise das transações financeiras revelou padrões atípicos, especialmente no uso recorrente de dinheiro em espécie. No caso dos filhos de Vladimir Abreu, os registros apontam centenas de depósitos fracionados, que, somados, ultrapassam R$ 1,3 milhão.
Para o corregedor, o volume e a forma das operações indicam possível ocultação da origem dos recursos, além de sugerirem o repasse de vantagens financeiras indevidas. O relatório também destaca a interligação operacional entre os investigados, citando o funcionamento de escritórios de advocacia vinculados às duas famílias no mesmo endereço, em Campo Grande.
Evolução patrimonial incompatível
A investigação avançou ainda sobre o patrimônio de Rodrigo Gonçalves Pimentel, cuja evolução financeira foi classificada como incompatível com os rendimentos inicialmente declarados. Dados fiscais analisados pelo CNJ mostram que, em poucos anos, os ganhos declarados saltaram de valores modestos para milhões de reais anuais.
O crescimento abrupto levou o órgão a aprofundar a apuração, inclusive sobre a estrutura empresarial associada ao advogado. No mesmo endereço dos escritórios, foram identificadas diversas empresas ligadas a Rodrigo, sem funcionários registrados, o que, para o CNJ, reforça a suspeita de empresas de fachada.
Ocultação de bens
A apuração também alcança Renata Gonçalves Pimentel, apontada nos autos como responsável por aquisições de alto valor não compatíveis com as informações prestadas ao Fisco. Segundo o CNJ, foram identificadas compras milionárias de veículos, algumas delas possivelmente realizadas com recursos em espécie e sem origem comprovada.
O relatório cita ainda a existência de bens imóveis não declarados, ampliando o escopo das suspeitas sobre ocultação patrimonial no núcleo familiar investigado.
Defesas não se manifestaram
A reportagem procurou os citados para manifestação. Renata Gonçalves Pimentel e as defesas de Rodrigo Gonçalves Pimentel e Sideni Soncini Pimentel não responderam até a última atualização. Também não houve retorno da defesa de Vladimir Abreu da Silva, nem dos advogados Marcus Vinícius e Ana Carolina Machado Abreu da Silva.
