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Delação revela notas fiscais em nome de deputado estadual e secretários

Delatores dizem que pagaram R$ 150 milhões em propinas a empresas e políticos de MS

20/05/2017 - 20h37

Com G1

Delação aponta envolvimento de políticos de MS (Foto: Divulgação )

Empresários, empresas, secretários de estado, políticos de Mato Grosso do Sul, e um deputado estadual foram citados em delações na operação Lava Jato. Os donos e executivos da JBS revelaram pagamentos de propina, que teriam ocorrido por pelo menos 13 anos e se consolidado nos últimos três governos do estado.


De acordo com Wesley Batista, um dos donos e o diretor de tributos da JBS, Valdir Aparecido Boni, ao todo teriam sido pagos R$ 150 milhões de reais nos três últimos governos. Confira abaixo o posicionamento das pessoas citadas.


Depoimentos e documentos apresentados pelos delatores revelam que a política de incentivos fiscais do governo do estado era o coração do suposto esquema.


“O estado tinha prerrogativa de conceder incentivos fiscais em função de investimentos efetuados nas fábricas ali localizadas. Em função do acerto de propina, foram feitos alguns termos de acordo, alguns legítimos e outros não, para concessão de créditos presumidos. Como funcionava? E eu que operacionalizava os termos de acordo com os representantes do MS. Minha função era: tá bom, olha, nós vamos fazer um investimento na planta X, o estado vai conceder sobre o valor investido 30% ou 50% do valor do investimento” afirmou Boni.


O empresário Wesley Batista também revelou detalhes do esquema. “E a mesma coisa, é incentivos fiscais para redução de ICMS. Vários incentivos são legítimos e alguns, se não me falha a memória, um dos termos de acordos não foi cumprido, foi simplesmente para reduzir o pagamento. Os outros em que pese o investimento era legítimo, mas você só conseguia o termo de acordo se você pagasse. Se você não pagasse, você não conseguia”.


Segundo os delatores, durante o governo Zeca do PT, o pagamento seria de 20% de qualquer benefício fiscal concedido a JBS. Os delatores não falaram quanto no total. Depois, no governo de André Puccinelli, a propina subiu de 20 para 30% sobre os benefícios. O total teria sido de R$ 60 milhões, em notas fiscais frias e também em dinheiro vivo.


No caso desse governo, os documentos especificam: R$ 5 milhões foram emitidos em nome de Ivanildo Miranda, que seria um dos interlocutores do governo, além de André Luiz Cance; R$ 9 milhões para a empresa Proteco, de João Amorim, que é investigada em outra operação, a Lama Asfáltica; R$ 980 mil para a gráfica Jafar e quase R$ 3 milhões para a gráfica e editora Alvorada, do empresário Mirched Jafar, preso na Lama Asflática.


Em nome da empresa MB Produções Cinematográficas aparecem mais de R$ 1 milhão; R$ 168 mil foram pra Amapil Táxi Aéreo; R$ 300 mil para Bartz propaganda; R$ 2,8 milhões para Ibope Inteligência Pesquisa e Consultoria; R$ 1,2 milhão em nome do Instituto Ícone de Ensino Jurídico.


Os delatores também dão detalhes de como funcionou o suposto pagamento de propina no atual governo, de Reinaldo Azambuja. A soma seria de R$ 38 milhões. Um documento aponta que as negociações começaram ainda na campanha eleitoral, em 2010. Na primeira lista de notas aparecem quase R$ 13 milhões à empresa Buriti Comércios de Carne.


A outra sequência de notas soma mais de R$ 15 milhões; R$ 7,6 milhões em nome de Élvio rodrigues e ainda dos atuais secretários: Márcio Monteiro, de fazenda; Zelito Alves Ribeiro, coordenador político do governo, e Nelson Cintra Ribeiro, assessor da secretaria de governo. No total, em nome deles os valores chegam a R$ 2,3 milhões.


Também aparecem os nomes de políticos do estado, o deputado estadual Zé Teixeira, do Dem. As notas em nome dele chegam a R$ 1,6 milhão. E em nome do ex-deputado estadual Osvane Ramos constam R$ 847 mil.


O empresário Wesley Batista ainda revela que, nos últimos anos, costumava ter contato direto com Azambuja e que pagou a ele R$ 10 milhões. “O próprio governador tratava comigo, ele próprio. O Boni ia lá no Palácio do Governo em Campo Grande. Essas notas o Boni pegou em mãos com o governador, essas notas fiscais e processou o pagamento. E a mesma coisa, é incentivos fiscais pra redução de ICMS” conta Wesley.


O empresário também revelou que durante a campanha para o governo do estado, em 2014, quando Reinaldo Azambuja e Delcídio do Amaral disputaram o cargo, foi feito um pagamento a Delcídio, numa espécie de acordo.


“Aqui tem um fato que acho que vale ressaltar no Mato Grosso do Sul que eu acho que ele é um fato relevante. Na campanha foi o Reinaldo e o Delcidio do Amaral candidatos. o Joesley autorizou que foi tratado com ele, adiantamento para o Delcidio do Amaral pra campanha dele para ser descontada se ele fosse governador nesse esquema. Ficou lá um conta corrente que o Joesley negociou com o Delcidio e com o Reinaldo, que se o reinado ganhasse, um iria pagar a conta do outro.


Posicionamento dos citados

Neste sábado (20), o governador falou sobre a citação do governo dele nas delações da Lava Jato. "Eu pessoalmente vou me defender dessas mentiras deslavadas e principalmente de uma coisa que é um absurdo, é até uma piada, dizer que eu tinha feito um acordo com eles pra pagar conta do Delcidio se eu ganhasse e o Delcidio pagaria minha conta se ele ganhasse, isso é uma piada que não merece nem dar consideração, mas também sobre isso nós vamos nos defender" afirmou Azambuja.


O deputado federal, Zeca do PT, disse em nota que na condição de ex-governador do estado, nunca pediu e nem tomou conhecimento de que alguém tenha pedido propina ao referido grupo em seu nome. O advogado do ex-governador, André Puccinelli, Renê Siufi, informou que ainda não teve conhecimento da delação. O advogado do ex-secretário estadual de fazenda, André Luiz Cance, informou que não teve conhecimento da delação, e quando tiver, prefere se manifestar apenas no processo. A TV Morena não conseguiu contato com Ivanildo Miranda.


Nelson Cintra, atual assessor da secretaria de governo, disse que desconhece ter fornecido notas frias e que está à disposição da justiça. A ainda não conseguimos contato com os secretários Márcio Monteiro e Zelito Alves Ribeiro. Élvio Rodrigues não atendeu às ligações.


A TV Morena não conseguiu contato com o deputado estadual Zé Teixeira pela assessoria do parlamentar e nem com o ex-deputado Osvane Ramos. Foi tentado falar com todas as empresas citadas, mas só o advogado da Proteco, empresa de João Amorim, retornou.


O advogado Benedito Figueiredo disse que não teve acesso aos documentos e que não irá se pronunciar. Emerson Carvalho, da Amapil Taxi Aéreo, disse que a empresa não emite notas frias e vai apurar por que a empresa foi citada na delação.

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