O ex-presidente da Colômbia Álvaro Uribe, 73 anos, foi condenado nesta sexta-feira a 12 anos de prisão após ser considerado culpado de manipulação de testemunhas, encerrando uma longa e controversa carreira que moldou a política do país por uma geração.
Uribe afirma ser inocente, alega que seu julgamento é fruto de “vingança política” e deve recorrer da decisão.
A sentença — que deve ser anunciada publicamente ainda nesta sexta, mas foi adiantada pela AFP com base em fontes judiciais — marca a primeira vez na História da Colômbia que um ex-presidente é condenado por um crime.
Uribe governou o país entre 2002 e 2010, liderando uma campanha militar implacável contra cartéis do narcotráfico e a guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Apesar das acusações de que teria colaborado com grupos paramilitares de direita na perseguição a guerrilheiros de esquerda, o ex-presidente segue popular e ainda exerce forte influência sobre a política conservadora do país, sendo peça-chave na escolha de líderes partidários.
Ele foi condenado por ter solicitado a paramilitares de direita que mentissem sobre seus supostos vínculos com ele. Na segunda-feira, a Justiça o considerou culpado de duas acusações: interferência em testemunhos e "fraude processual".
Figura dura na política de segurança, Uribe foi aliado próximo dos Estados Unidos e ainda mantém laços com setores da direita americana.
O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, criticou anteriormente o processo contra o ex-presidente, alegando, sem apresentar provas, que o caso representa “a instrumentalização do Judiciário colombiano por juízes radicais”.
Pesquisas recentes o apontam como o político mais admirado da Colômbia. Em 2019, milhares protestaram em Medellín e na capital Bogotá quando ele foi indiciado pela primeira vez. Nesta segunda-feira, um grupo menor de apoiadores se reuniu diante do tribunal usando máscaras com seu rosto e entoando: “Uribe, inocente!”
A investigação contra Uribe teve início em 2018 e passou por diversas reviravoltas, com vários procuradores-gerais tentando arquivar o caso. O processo ganhou novo fôlego sob o comando da procuradora-geral Luz Camargo, indicada pelo atual presidente Gustavo Petro — ex-guerrilheiro e rival histórico de Uribe.
Mais de 90 testemunhas prestaram depoimento no julgamento, iniciado em maio de 2024. Durante o processo, os promotores apresentaram provas de que pelo menos um ex-paramilitar afirmou ter sido procurado por Uribe para alterar seu depoimento.
O ex-presidente também é alvo de outras investigações. Ele já prestou depoimento a promotores em uma apuração preliminar sobre o massacre de camponeses cometido por paramilitares em 1997, quando governava o departamento de Antioquia, no oeste colombiano.
Uma denúncia também foi apresentada contra ele na Argentina, onde o princípio da jurisdição universal permite julgar crimes cometidos em qualquer lugar do mundo. Essa ação está ligada ao suposto envolvimento de Uribe nas mais de 6 mil execuções e desaparecimentos forçados de civis pelas Forças Armadas colombianas durante seu mandato presidencial. (Com O Globo)