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Política

Trump faz cerca à Venezuela no combate às drogas, mas tem interesse econômico

As reservas de petróleo de Caracas estão no centro dos diálogos entre interlocutores de Washington que tratam tanto com o regime chavista quanto com a oposição

Conjuntura Online
18/12/25 às 10h25
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MV-22 Osprey taxiando na reativada base de Roosevelt Roads; EUA mandaram F-35 para Porto Rico (Foto: Miguel J. Rodriguez Carrillo/ Getty Images via AFP)

Embora o presidente dos EUA, Donald Trump, e seus assessores venham insistindo publicamente que as operações militares em torno da Venezuela e a pressão cada vez mais intensa contra o líder chavista, Nicolás Maduro, são parte de uma campanha de combate ao narcotráfico, o bloqueio naval total a "petroleiros sancionados" anunciado pelo republicano na terça-feira demonstra que um elemento já em discussão nos bastidores e presente nos discursos do chefe da Casa Branca sobre o país nos últimos anos figura com destaque no radar americano: as reservas de petróleo venezuelanas, consideradas as maiores do mundo.

Ontem, governo Maduro ordenou que a Marinha venezuelana escolte navios que transportam derivados de petróleo para fora do país, aumentando o risco de um confronto com os EUA, segundo fontes do New York Times. Diversos navios partiram da costa leste do país rumando para mercados asiáticos com escolta naval entre a noite de terça-feira e a manhã de ontem, segundo três pessoas familiarizadas com o assunto. Os navios que viajavam com a escolta não constavam na lista de embarcações sancionadas pelos EUA, o que torna incerto se poderiam ser alvo do bloqueio imposto pela Casa Branca, ainda envolto em dúvidas sobre sua execução. Os EUA estão mantendo a maior mobilização bélica no Caribe em décadas, com 15 mil militares, navios e um porta-aviões

17% das reservas mundiais

A Venezuela e seu petróleo estão no cerne de duas das prioridades declaradas de segurança nacional de Trump: o domínio de recursos energéticos e o controle do Hemisfério Ocidental. O país possui cerca de 17% das reservas mundiais conhecidas de petróleo, ou mais de 300 bilhões de barris, quase quatro vezes a quantidade dos EUA. E nenhuma nação tem uma influência maior na indústria petrolífera venezuelana do que a China, a superpotência cuja imensa presença comercial na região o governo Trump tenta conter e que compra 80% do petróleo do país sul-americano.

A importância ficou evidente em negociações reservadas recentes entre autoridades americanas e Maduro, e em diálogos entre assessores e figuras próximas de Trump com María Corina Machado e outras figuras da oposição venezuelana em que o petróleo foi posto como moeda de troca por alívio na pressão, por um lado, ou recompensa para apoio, por outro.

— Estou falando de uma oportunidade de US$ 1,7 trilhão (R$ 9,29 trilhões) — disse María Corina no mês passado, semanas após ser anunciada como vencedora do Prêmio Nobel da Paz, destacando as reservas de petróleo e gás do país durante uma participação por videoconferência de um evento de negócios em Miami, assistido por Trump.

O público no evento pareceu receptivo ao discurso da líder opositora venezuelana, que afirmou que um novo governo em Caracas abriria “tudo” do mercado — referindo-se às fases de “exploração, transporte e refino” de petróleo — a todas as empresas, incluindo aí recursos minerais e infraestrutura energética.

Trump já vinha demonstrando interesse no petróleo venezuelano havia tempos. Em discurso a apoiadores em 2023, antes de voltar à Casa Branca, ele disse que quando saiu do poder, em 2021, "a Venezuela estava à beira do colapso, nós a teríamos tomado, teríamos ficado com todo aquele petróleo". Em 2019, ainda presidente, ele ordenou a seus assessores que fizessem com que Juan Guaidó, então líder da oposição venezuelana, se comprometesse a dar aos EUA acesso ao petróleo de seu país e a bloquear as relações comerciais com a China e a Rússia caso o opositor tomasse o poder de Maduro em uma iniciativa apoiada pelos EUA, de acordo com as memórias de John Bolton, seu então conselheiro de Segurança Nacional.

Oferta de abertura

Por sua vez, partiu do chavismo uma proposta de abertura econômica aos EUA. Quando Richard Grenell, enviado especial para assuntos da Venezuela e presidente do Kennedy Center, liderou negociações recentes para alcançar um acordo com Maduro, o líder venezuelano ofereceu a Trump a abertura da indústria petrolífera do país aos americanos, para além do acesso limitado concedido à Chevron, que opera no país com uma licença confidencial herdada do governo Joe Biden, recentemente prorrogada na administração Trump, embora sob novos termos.

Trump rejeitou a oferta do líder chavista. Outros assessores importantes, liderados pelo secretário de Estado e conselheiro de Segurança Nacional, Marco Rubio, argumentaram que Maduro não é confiável e estaria tentando ganhar tempo, e pressionaram por uma destituição pela força. O grupo defende ainda que uma líder conservadora e favorável ao livre mercado como María Corina favoreceria as empresas americanas e limitaria o investimento chinês.

Caracas conta com as compras de petróleo pela China como proteção contra as sanções econômicas impostas ainda no primeiro governo Trump (2017-2021) e mantidas pelo presidente Joe Biden. Em abril, Delcy Rodríguez, vice-presidente da Venezuela, solicitou aos líderes chineses, durante uma visita a Pequim, que aumentassem os investimentos na indústria petrolífera venezuelana e comprassem mais petróleo bruto. A China já responde por 80% das compras de petróleo da Venezuela.

'Mentiras e manipulações'

Após o anúncio do governo Trump sobre o bloqueio aos navios petroleiros, a Venezuela classificou o caso como uma "ameaça imprudente e grave", argumentando que a medida viola o direito internacional, o livre comércio e a liberdade de navegação. O Palácio de Miraflores denunciou em nota que "a verdadeira intenção [de Trump] sempre foi se apoderar do petróleo, das terras e dos minerais do país por meio de campanhas de mentiras e manipulações".

Caracas anunciou que levará o caso à ONU, mas informou que as exportações estão ocorrendo "normalmente" apesar da proibição, com os petroleiros envolvidos nas operações da PDVSA "navegando com plena segurança": cerca de 60% dos petroleiros que transportam o petróleo venezuelano não estão sujeitos a sações dos EUA.

A crescente tensão levou a presidente do México, Claudia Sheinbaum, a se oferecer para mediar o diálogo entre Washington e Caracas e a pedir publicamente à ONU que impeça um “derramamento de sangue”. O secretário-geral da ONU, António Guterres, conversou com Maduro por telefone e afirmou que quer evitar uma “escalada maior” nas tensões. Ele fez um “apelo à moderação e à distensão imediata da situação”. Por sua vez, o chanceler da China, Wang Yi, disse que Pequim se opõe à “intimidação unilateral”, informou a mídia estatal chinesa, e a Chancelaria da Rússia afirmou que as medidas americanas “podem ter consequências imprevisíveis para todo o Ocidente”, informou a agência Tass. (Com NYT e AFP) (Com O Globo)

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