Uma conversa telefônica entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump poderia ser o impulso necessário para uma negociação entre Brasil e Estados Unidos em torno da sobretaxa de 50%, que passará a incidir sobre cerca de 60% das exportações brasileiras a partir desta quarta-feira.
Contudo, segundo interlocutores do governo Lula, é preciso saber se a Casa Branca realmente deseja esse telefonema e se está disposta a restringir o diálogo à pauta comercial.
Na última sexta-feira, Trump afirmou que Lula pode falar com ele "quando quiser". O presidente brasileiro respondeu dizendo estar aberto ao diálogo. Diplomatas consideraram a atitude do líder americano como “um gesto”, mas que deve ser interpretado com cautela.
Pessoas que acompanham de perto o impasse afirmam que, caso haja um movimento de Washington para que os dois líderes conversem pela primeira vez, será necessário avaliar se Trump está disposto a manter o foco na relação comercial bilateral, sem utilizar a situação do ex-presidente Jair Bolsonaro como instrumento de pressão. A partir disso, haveria uma preparação prévia, nos bastidores, sobre os temas a serem abordados, quem faria a ligação e quando ela ocorreria.
A avaliação em Brasília é que, se algo der errado na chamada entre Lula e Trump, o prejuízo para os interesses do Brasil pode ser ainda maior. Por isso, o governo prefere evitar riscos e não se sente obrigado a dar uma resposta imediata à opinião pública. A principal preocupação neste momento é com os setores econômicos afetados pelo tarifaço.
Desde o dia 9 de julho, quando Trump divulgou uma carta anunciando a sobretaxa de 50% e acusando o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Alexandre de Moraes, de perseguir Bolsonaro, a crise — inicialmente comercial — ganhou contornos políticos. Por essa razão, a percepção no Itamaraty é que a decisão agora está nas mãos da Casa Branca.
Integrantes do governo Lula lembram que o encontro entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado americano, Marco Rubio, realizado na última quinta-feira, era um desejo antigo do lado brasileiro. Nos bastidores, técnicos dos dois governos seguem em contato, embora sem instruções claras, por parte dos EUA, sobre como conduzir as negociações.
O vice-presidente, Geraldo Alckmin, tem mantido conversas com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, planeja dialogar com o secretário do Tesouro, Scott Bessent. (Com O Globo)