O ano de 2025 marcou um ponto de virada no olhar dos brasileiros para a China. Pelo menos é isso que apontam levantamentos feitos por plataformas como KAYAK, Decolar e Booking.com no país.
As empresas mostram que as buscas por voos e hospedagens para o país asiático cresceram de maneira impressionante em comparação a 2024, com aumentos que chegam a ultrapassar 200%.
Hong Kong, Pequim e Xangai despontam entre as cidades mais procuradas, enquanto destinos de natureza como Zhangjiajie também despertam a atenção, especialmente entre famílias.
Apesar do salto nos números, os especialistas são cautelosos: trata-se de buscas, e não de reservas confirmadas, o que significa que o interesse ainda não se converteu na mesma proporção em viagens realizadas.
Isenção de visto
Desde 1º de junho de 2025, brasileiros podem entrar na China sem visto para estadias de até 30 dias a lazer. A princípio, esta política ficará em vigor até maio de 2026. Embora seja arriscado afirmar que esse seja o único motivo por trás do aumento do interesse, a medida certamente reduziu barreiras burocráticas e funcionou como um incentivo adicional.
Para a agência Mundo Ásia Tours, que atua na recepção de brasileiros no continente, o reflexo é claro no dia a dia. A equipe relata que as consultas cresceram de forma perceptível após a mudança e que, embora as viagens confirmadas ainda estejam em um ritmo lento, há expectativa de que 2026 represente uma virada, principalmente se a política for prorrogada.
Segundo a agência, citando dados oficiais chineses, há uma estimativa de que pouco mais de 20 mil brasileiros visitaram a China em 2019, antes da pandemia. Em 2024, o número ainda era inferior, com cerca de 12 mil visitantes, mas a projeção é que esse volume possa dobrar até 2027 se a isenção de visto for mantida e a malha aérea for expandida, como é a expectativa.
"Acredito que o interesse venha de uma mistura de curiosidade, exposição na mídia, cultura, história, modernidade e tecnologia. O turismo cultural e histórico pesa mais, mas estamos vendo crescimento na demanda por experiências modernas, como as vibrações tecnológicas de ponta e urbanas de Xangai e Pequim", conta Lucas Pham, diretor da Mundo Ásia.
Segundo o profissional, os esforços do governo chinês por meio de política de vistos e promoções de propaganda para impulsionar o turismo receptivo também contam muito. "Muitos brasileiros mais velhos sempre ouviram falar da China e a veem como fonte de curiosidade, mas antigamente era difícil e menos acessível. Agora está mais ao alcance", ressalta.
Em julho, o Ministério do Turismo e a Embaixada da China no Brasil fortaleceram a relação bilateral no turismo com o acordo de desenvolvimento de uma série de ações a fim de promover os destinos e as culturas de ambos os países.
Entre as ações está a realização do Ano da Cultura Brasil-China, em 2026, além da criação de uma rota turística integrada envolvendo os países dos BRICS e parcerias voltadas a nichos específicos, como o turismo de esportes.
Dados ajudam a entender a tendência
O comportamento registrado nas plataformas de viagens reforça a percepção do aumento do interesse do brasileiro pela China. Segundo o KAYAK, as buscas por voos para Hong Kong aumentaram 205%, para Pequim 188% e para Xangai 121%.
Na Decolar, a procura por passagens entre Brasil e China cresceu 85% no segundo semestre de 2025, sendo outubro o mês de maior concentração, puxado pela Golden Week, feriado nacional de uma semana que celebra a fundação da República Popular da China. O evento, que costuma durar de 1º a 7 de outubro, inclui atividades culturais e cerimônias, como o hasteamento da bandeira na Praça da Paz Celestial, em Pequim.
Já a Booking.com registrou um crescimento de 229% nas pesquisas feitas por brasileiros interessados em hospedagem na China para viagens programadas entre 11 de setembro de 2025 e 11 de março de 2026, com destaque para Xangai, Pequim, Guangzhou e Chongqing.
O caso de Zhangjiajie chama a atenção: entre famílias, as buscas pelo destino saltaram mais de 1.000%, sinalizando que a paisagem natural que inspirou o filme "Avatar" pode se tornar uma nova porta de entrada no imaginário do turista brasileiro.
Os desafios de transformar buscas em viagens
Apesar do entusiasmo, o passo da concretização da viagem ainda encontra entraves significativos. Segundo a Mundo Ásia, o preço das passagens aéreas continua sendo o maior deles: os bilhetes entre Brasil e China, em classe econômica, geralmente variam entre R$ 8 mil e R$ 25 mil, embora promoções pontuais indiquem valores menores.
"No entanto, a China está adicionando mais voos para as Américas, como direto para o México em julho e planejado para a Argentina em dezembro, sendo a rota mais longa do mundo. Esperamos que um voo direto entre China e Brasil possa acontecer logo, talvez em 2026, facilitando ainda mais", enfatiza Pham.
A barreira do idioma também pesa, já que, fora dos grandes centros turísticos, o inglês é pouco falado. Além disso, a conectividade digital permanece limitada, com aplicativos de comunicação como WhatsApp, Instagram e Facebook bloqueados no país, o que obriga o viajante a se preparar com outras alternativas.
O sistema de pagamentos, apesar de ter avançado com a aceitação de cartões internacionais em plataformas, ainda exige adaptação. Por fim, há o fator logístico: a China é um país de dimensões continentais e os deslocamentos internos, feitos de trem-bala ou em voos domésticos, pedem planejamento e compra antecipada.
Calendário e destinos mais buscados
Planejar bem a data da viagem é essencial. O outono, entre setembro e novembro, costuma oferecer temperaturas mais amenas e maior estabilidade climática em boa parte do país, além de preços mais atrativos.
Por outro lado, períodos como a Golden Week, no início de outubro, o Ano Novo Lunar, entre janeiro e fevereiro, e o feriado do Dia do Trabalho, em maio, tornam a experiência mais complexa, com preços elevados, multidões e dificuldade de acesso às principais atrações turísticas.
No que diz respeito aos roteiros, a combinação de Pequim, Xi’an e Xangai continua sendo a porta de entrada clássica para o turista brasileiro, unindo história e modernidade. Hong Kong, pela facilidade de acesso e pelo perfil cosmopolita, aparece como opção estratégica para a primeira viagem, frequentemente associada a Shenzhen e Guangzhou. No campo da natureza, Zhangjiajie e Guilin atraem cada vez mais atenção pela beleza pitoresca.
Um olhar adiante
O que se observa até aqui é uma clara curiosidade do público brasileiro em relação à China, traduzida em números que impressionam.
"Nos dados oficiais, a base de turistas ainda é pequena, mas com potencial de crescimento expressivo. Para que essa transição aconteça de forma consistente, será preciso uma malha aérea mais ampla, preços mais acessíveis e soluções que diminuam as barreiras culturais e tecnológicas. Até lá, 2025 e 2026 se apresentam como anos de maturação, em que a China passa a ocupar um espaço cada vez maior no imaginário do viajante brasileiro", conclui Lucas. (Com Viagem&Gastronomia)