Investigação da Polícia Federal mostra que parte do dinheiro desviado em esquema no Tocantins durante a pandemia de Covid-19 foi usado para a construção de uma pousada de luxo em nome do filho do governador, Wanderlei Barbosa (Republicanos).
Segundo investigadores, a Pousada Pedra Canga fica localizada na Serra de Taquaruçu, um distrito da capital, Palmas, e "foi constatado o direcionamento de grandes somas de recursos para a construção" do empreendimento. Cerca de R$ 2,4 milhões teriam sido destinados à obra em dois anos.
A pousada está em nome de Rérison Antônio Castro Leite, filho do governador Wanderlei Barbosa — afastado do cargo nesta quarta-feira (3) durante operação da PF.
Os investigadores indicam que o governador é suspeito de chefiar a organização criminosa. A decisão de afastá-lo por seis meses é do ministro Mauro Campbell, do STJ (Superior Tribunal de Justiça), e será analisada pelos demais ministros.
O governador afirmou que respeita a decisão, mas vê o afastamento como "medida precipitada" e que determinou auditorias nos contratos assinados durante a pandemia.
O envio de recursos desviados para a pousada, indica a PF, começou em julho de 2022 e acontece até o momento. Foi mapeado o envio de mais de R$ 2,4 milhões para a construção do empreendimento entre os dias 21 de junho de 2022 e 30 de julho de 2024.
Entre as provas indicadas pela PF está uma conversa interceptada entre Rérison e Marcos Martins Camilo, então chefe de gabinete do governador.
Em determinado momento, o filho diz que "até a última vez que eu falei com ele, ele não queria que botasse nada no nome dele não". Para a PF, o termo "ele" se refere a Wanderlei Barbosa, que teria utilizado o filho para ocultar patrimônio.
"Com o escopo de justificar o afluxo de capital de Wanderlei Barbosa Castro para o empreendimento, o balanço financeiro da pousada passou a indicar os aportes como sendo transferências de 'Investidor-Anjo', termo utilizado em direito empresarial para qualificar aquele que aporta recursos em empreendimentos em estruturação, em troca de futura participação societária", diz trecho da investigação.
Desvio de recursos
A PF apura fraudes em contratos de fornecimento de cestas básicas e frangos congelados financiados por emendas parlamentares em 2020 e 2021. Nesse período, os investigados teriam se aproveitado do estado de emergência em saúde pública e assistência social para fraudar contratos de fornecimento de cestas básicas.
Os contratos do governo do Tocantins investigados pela PF e STJ envolvem a compra de pelo menos 1,6 milhão de cestas básicas durante a pandemia. A suspeita da polícia é de que os contratos, que chegavam a quase R$ 5 milhões, foram pagos, mas nem todas as cestas foram entregues à população.
Na época, as compras de alimentos e aluguel de caminhões que fizeram a distribuição em todo estado foram realizadas sem licitação, considerando o decreto de emergência estadual.
Os recursos desviados, segundo a PF, teriam sido ocultados em empreendimentos de luxo, na compra de cabeças de gado e em despesas pessoais dos envolvidos no esquema criminoso.
O que diz o governador Wanderlei Barbosa:
"Recebo a decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça) com respeito às instituições, mas registro que se trata de medida precipitada, adotada quando as apurações da Operação Fames-19 ainda estão em andamento, sem conclusão definitiva sobre qualquer responsabilidade da minha parte. É importante ressaltar que o pagamento das cestas básicas, objeto da investigação, ocorreu entre 2020 e 2021, ainda na gestão anterior, quando eu exercia o cargo de vice-governador e não era ordenador de despesa.
Reforço que, por minha determinação, a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) e a Controladoria-Geral do Estado (CGE) instauraram auditoria sobre os contratos mencionados e encaminharam integralmente as informações às autoridades competentes.
Além dessa providência já em curso, acionarei os meios jurídicos necessários para reassumir o cargo de Governador do Tocantins, comprovar a legalidade dos meus atos e enfrentar essa injustiça, assegurando a estabilidade do Estado e a continuidade dos serviços à população."
Governador Wanderlei Barbosa (Republicanos)
(Com g1, TV Globo e GloboNews)